Tarifas de Trump pressionam parceiros comerciais, gerando retaliações, negociações e impactos na economia global
Parceiros comerciais sob pressão tarifária
Os parceiros comerciais dos Estados Unidos enfrentam poucas alternativas diante da guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump. A imposição de tarifas de 10% a 50% sobre exportações para a maior economia do mundo tem deixado países com pouca margem de manobra. A maioria das nações afetadas não tem poder econômico para retaliar ou vontade política para entrar em confronto direto com os EUA, segundo economistas e autoridades comerciais.
Diante desse cenário, a maior parte dos parceiros comerciais optou por não retaliar de imediato e indicou disposição para negociações. Mesmo os países que aplicaram contramedidas mantiveram abertas as possibilidades de diálogo. Um dos principais motivos para isso é a importância do mercado consumidor americano, que representa dois terços a mais do que o da União Europeia, conforme dados do Banco Mundial.
Reações internacionais
A China respondeu às tarifas impostas pelos EUA com medidas severas. Nesta sexta-feira (4), o governo chinês anunciou que, a partir de 10 de abril, irá impor tarifas adicionais de 34% sobre produtos americanos. Além disso, Pequim restringiu a exportação de minerais raros estratégicos e proibiu a venda de itens de dupla utilização para 16 empresas dos EUA. Como parte da resposta, a China também apresentou queixa formal à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Outros países, como o Canadá, preferiram uma abordagem mais cautelosa. Apesar das tarifas de 25% sobre aço e alumínio canadense, o país evitou grandes retaliações e focou em negociações diplomáticas para minimizar os impactos sobre sua economia. Enquanto isso, a Índia, atingida por uma tarifa de 27%, já iniciou diálogos para tentar minimizar perdas. Segundo fontes do governo, o país considera reduzir taxas sobre mais da metade das importações americanas, totalizando US$ 23 bilhões.
Impactos econômicos
Além da pressão diplomática, as tarifas têm forçado países a adotar medidas emergenciais para proteger suas economias. A Espanha, por exemplo, anunciou um pacote de auxílio de 14 bilhões de euros (US$ 15,5 bilhões) para mitigar os danos causados pelas barreiras comerciais. Já a Alemanha busca novas parcerias comerciais com México, Canadá e Índia para reduzir sua dependência dos EUA.
Para a China, além das tarifas, há uma necessidade urgente de fortalecer laços comerciais com outros mercados. O governo chinês tem intensificado relações com blocos como a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), o Japão e a Coreia do Sul para compensar perdas. No entanto, especialistas acreditam que uma trégua entre Washington e Pequim pode ocorrer, embora o histórico de confrontos entre os dois países torne esse processo complexo e demorado.
Consequências políticas
A União Europeia, já ressentida com o governo Trump por questões de segurança, declarou que o bloco de 450 milhões de consumidores está pronto para responder às tarifas de 20% impostas pelos EUA. O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, enfatizou a importância de alianças comerciais com outras economias para enfrentar o protecionismo americano.
Apesar das estratégias de resistência, o tempo é um fator crítico. A negociação de acordos comerciais pode levar anos – a UE e o Mercosul, por exemplo, passaram 25 anos negociando um pacto de livre comércio antes de chegarem a um consenso em dezembro do ano passado. Enquanto isso, empresas já sentem os impactos das tarifas. A fabricante de automóveis Stellantis NV anunciou que pausará a produção em uma fábrica no Canadá, enquanto outras companhias iniciam demissões.
O recurso à OMC também se mostra limitado, pois o órgão foi enfraquecido durante o primeiro mandato de Trump, tornando-o menos eficiente para resolver disputas comerciais. Analistas acreditam que, a menos que ocorra uma mudança na postura americana, os países afetados terão que se adaptar ao novo cenário global. Para isso, deverão investir em estímulos internos e buscar a diversificação de parceiros comerciais.
Fonte: InfoMoney