Ex-presidente do Uruguai, José Mujica falece aos 89 anos e deixa legado de simplicidade, coerência política e reformas sociais marcantes
Adeus a um símbolo da política com propósito
José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e ícone da esquerda latino-americana, faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos. A morte ocorreu em sua chácara, nos arredores de Montevidéu. Mujica enfrentava um câncer no esôfago, diagnosticado em abril de 2024, já em estágio avançado. Em janeiro deste ano, o tumor havia se espalhado, e ele passou a receber cuidados paliativos, conforme informou sua esposa, Lucía Topolansky.
O atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, anunciou a morte com pesar e decretou luto nacional por três dias. “Sentiremos muito sua falta, velho querido”, escreveu Orsi, destacando o legado humano e político de Mujica. A família cremará o ex-presidente, conforme seu desejo, e guardará suas cinzas em sua propriedade rural.
Guerrilheiro, prisioneiro e estadista reformista
Nascido em 20 de maio de 1935, Mujica ingressou ainda jovem no Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, grupo guerrilheiro que combatia a desigualdade social nos anos 1960. Ferido por seis tiros e capturado várias vezes, passou 14 anos preso, muitos deles em condições degradantes. Foi libertado em 1985 com a redemocratização do país.
Após a prisão, entrou na política institucional e ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular, que integra a coalizão de esquerda Frente Ampla. Eleito deputado em 1994 e depois senador, foi ministro da Agricultura no governo de Tabaré Vázquez antes de ser eleito presidente em 2010.
Durante seu mandato, promoveu reformas progressistas como a legalização da maconha, o casamento igualitário e a descriminalização do aborto. Também aumentou o salário mínimo em 250% e expandiu o acesso à educação e habitação popular.
Vida simples, valores profundos
Mujica se tornou mundialmente conhecido como “o presidente mais pobre do mundo”. Recusava luxos, morava em um sítio modesto, dirigia seu Fusca 1987 e doava até 90% do salário para programas sociais. Essa postura o transformou em símbolo de coerência e ética pública.
Aposentado da política desde 2020, após renunciar ao Senado por questões de saúde, dedicava-se à horta de sua propriedade e a reflexões sobre a vida. “Não tenho religião, mas admiro a natureza”, afirmou em uma de suas últimas entrevistas.
Defensor da integração latino-americana, Mujica dizia que os países da região só teriam força se agissem unidos. Inspirou gerações com seu discurso direto, filosófico e sempre crítico ao consumismo e à desigualdade.