Primeira terapia CRISPR personalizada corrige mutação rara em bebê com deficiência de carbamoil-fosfato sintetase 1 (CPS1)
Avanço médico sem precedentes
Um bebê americano de apenas nove meses entrou para a história como o primeiro paciente a receber uma edição genética CRISPR personalizada. KJ Muldoon foi diagnosticado com uma condição extremamente rara chamada deficiência de carbamoil-fosfato sintetase 1 (CPS1), que atinge um em cada 1,3 milhão de recém-nascidos. Sem tratamento, a doença pode causar danos neurológicos graves e levar à morte precoce.
A CPS1 é uma enzima essencial do ciclo da ureia, responsável por eliminar o excesso de amônia do corpo. Sem ela, a amônia se acumula rapidamente no sangue e no cérebro, provocando intoxicação severa. Os médicos geralmente oferecem cuidados paliativos ou indicam um transplante de fígado como alternativas tradicionais, embora ambos apresentem resultados incertos.
Como funciona a edição genética CRISPR
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e do Hospital Infantil da Filadélfia desenvolveram a terapia experimental em tempo recorde. O tratamento utilizou a tecnologia CRISPR-Cas9 com edição de base, uma técnica de precisão que corrige erros pontuais no DNA.
A edição foi entregue por nanopartículas lipídicas que protegeram o material genético até chegar ao fígado, onde ocorre o ciclo da ureia. A intervenção foi feita em três aplicações. Cada dose visou corrigir a mutação exata de KJ, substituindo uma “letra” defeituosa em seus 3 bilhões de pares genéticos.
Resultados promissores e impacto futuro
Após a terceira dose, KJ apresentou avanços expressivos. Ele tolera quantidades normais de proteína e reduziu drasticamente a dependência de medicamentos que eliminam a amônia. Embora ainda precise de acompanhamento, seu desenvolvimento é estável e promissor.
O sucesso do caso abre portas para terapias personalizadas para outras doenças genéticas raras. Como os cientistas precisam apenas ajustar a “instrução genética” da ferramenta CRISPR para cada mutação, eles conseguem reproduzir o modelo com menos tempo e custo. Doenças como anemia falciforme, fibrose cística e distrofia muscular já estão no radar dos pesquisadores.
Os pesquisadores apresentaram a pesquisa na reunião anual da Sociedade Americana de Terapia Celular e Genética e a publicaram no New England Journal of Medicine. O caso de KJ destaca o potencial da edição genética personalizada para transformar o tratamento de doenças hereditárias.