Sírios vão às urnas em 5 de outubro para formar parlamento pós-Assad em sistema indireto controlado por autoridades interinas
Um processo eleitoral diferenciado
Neste domingo (5), a Síria realiza eleições para formar seu primeiro parlamento desde a queda de Bashar al-Assad. As autoridades organizam o pleito por meio de colégios eleitorais regionais e fazem indicações presidenciais diretas, em vez de realizar um voto popular direto. O governo interino afirma que precisa adotar essas condições por causa do deslocamento massivo da população e da ausência de registros eleitorais confiáveis. Em 60 distritos, cerca de 7 mil membros dos colégios eleitorais devem votar para preencher 140 cadeiras da Assembleia Popular. Ao mesmo tempo, o presidente interino Ahmed al-Sharaa vai nomear diretamente um terço dos deputados, ou seja, 70 assentos.
A Assembleia Popular reunirá 210 membros, mas as autoridades adiaram a votação em várias regiões, o que deixou algumas cadeiras em aberto. As eleições em Sweida e em áreas curdas no nordeste foram postergadas indefinidamente por causa de tensões políticas e militares. Isso reduz o universo eleitoral efetivo, de modo que cerca de 6 mil eleitores votarão em 50 distritos para cerca de 120 assentos. Em Aleppo, o maior distrito, 700 eleitores escolherão 14 deputados; em Damasco, 500 eleitores votarão para preencher 10 cadeiras. Observadores e críticos afirmam que esse sistema mantém mecanismos de controle e limita a real representatividade.
Desafios, críticas e legitimidade em debate
Sob o regime Assad, as eleições eram formais e controladas pelo Partido Baath, com pouca competição real. Agora, apesar da promessa de mudança, muitos apontam que o modelo indireto favorece o governo interino. A exclusão de regiões como Sweida e o território curdo aumenta o risco de marginalização de minorias. Alguns citam que apenas 14 % dos candidatos são mulheres, o que levanta dúvidas sobre inclusão política. O candidato sírio-americano Henry Hamra é destaque por ser o primeiro judeu postulante desde os anos 1940.
Um servidor público aposentado de 77 anos afirmou: “apoiamos as autoridades, mas essas não são eleições verdadeiras”. A transição prevista terá mandato de 30 meses, com o projeto de preparar eleições diretas futuras. O processo, segundo al-Sharaa, é “moderado e apropriado às circunstâncias”, embora reconheça que está incompleto. Especialistas estrangeiros alertam que o modelo indireto pode consolidar poder e perpetuar controle, mais do que gerar democracia real. A oposição e organizações de direitos humanos exigem abertura maior e fiscalização internacional do pleito.
O que esperar nos próximos dias
As autoridades deverão anunciar os resultados preliminares assim que a votação terminar. A imprensa estatal já indicou que a apuração começou em alguns centros eleitorais. A expectativa é divulgar a lista final nesta segunda-feira (6). A nova Assembleia deverá assumir as funções legislativas sob uma Constituição temporária, e legislar sobre reformas políticas e eleitorais. Também terá papel de preparar o terreno para a aprovação de uma Constituição permanente e convocar eleições diretas no futuro.
Mesmo com críticas e limitações, o evento é visto como passo simbólico na transição política síria. Se for bem executado, pode ajudar a estabilizar o país pós-guerra e gerar confiança interna e externa. Se falhar em legitimidade, pode alimentar fragmentação e contestação contínua. O mundo acompanhará o processo como teste da credibilidade do novo governo interino.