Brasil investe em inovação genética no algodão para manter competitividade diante de fibras sintéticas e entraves na produção agrícola
Nos últimos anos, o Brasil dobrou sua produção de algodão em pluma, passando de cerca de 1,7 milhão de toneladas na safra 2013/14 para uma estimativa de 3,9 milhões de toneladas em 2024/25, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA). O volume consolida a posição do país como maior exportador global da fibra, mas esconde um cenário de complexidade crescente.
A indústria têxtil brasileira tem perdido espaço para concorrentes, o que reforça o foco do setor no mercado externo. Competição com fibras sintéticas, instabilidades comerciais e aumentos nos custos de produção têm pressionado o setor. Para manter a produtividade, a saída tem sido investir em inovação no melhoramento genético.
Eduardo Kawakami é head de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da TMG – Tropical Melhoramento & Genética, empresa brasileira de soluções genéticas para algodão, soja e milho. Ele destaca que o algodão brasileiro se tornou uma referência internacional por três pilares: produtividade, qualidade de fibra e sustentabilidade. “Esses atributos são indispensáveis para manter o interesse do mercado internacional, especialmente diante da concorrência com as fibras sintéticas, que têm custo menor e produção mais estável”, afirma.
Segundo o especialista, os mercados internacionais valorizam cada vez mais a imagem sustentável do algodão brasileiro. “A rastreabilidade e as boas práticas são exigências em alta, e o Brasil tem respondido a isso. A credibilidade na forma como o algodão é produzido, além da qualidade de fibra é um diferencial competitivo”, diz.
Desafios no campo
Além da questão da qualidade da fibra, Kawakami aponta que o melhoramento genético tem contribuído para reduzir o impacto de doenças e pragas, um dos grandes entraves em regiões tropicais. “Ramulária, nematoides e mancha alvo (Corynespora) são desafios constantes. O trabalho de melhoramento tem focado em cultivares mais resistentes, o que reduz a necessidade de aplicações defensivas e contribui para uma produção mais sustentável e economicamente viável”, explica.
Ele acrescenta que o bicudo-do-algodoeiro, praga de alto impacto econômico, segue como uma das maiores preocupações do setor. “Temos investigado soluções biotecnológicas para o bicudo e, ao avançarmos nisso, daremos um salto real em competitividade”, afirma.
Embora o Brasil se destaque por produzir algodão sem necessidade de irrigação, o que é um diferencial em termos ambientais, o clima tropical impõe outros riscos. “Excesso de chuvas pode comprometer a colheita, e doenças são mais frequentes nesse tipo de clima. É um sistema mais vulnerável, que exige soluções tecnológicas avançadas para garantir estabilidade”, comenta.
Diante de um cenário global instável, com tensões comerciais entre grandes players como Estados Unidos e China, Kawakami acredita que o Brasil tem uma oportunidade de reforçar seu protagonismo. “É um mercado que exige previsibilidade, produtividade e responsabilidade ambiental. O melhoramento genético tem papel direto nisso tudo. Não é mais apenas uma questão agronômica, mas estratégica para o posicionamento do algodão brasileiro no mundo”, conclui.