Primeiro dia do conclave termina sem consenso; cardeais seguem reunidos na Capela Sistina para eleger o sucessor de Francisco
O conclave começou nesta terça-feira (7), no Vaticano, e o mundo católico voltou os olhos para a chaminé da Capela Sistina. Os cardeais ainda não chegaram a um consenso sobre o novo papa, e a fumaça preta subiu, sinalizando isso. A cena, repetida ao longo da história da Igreja, marca o início de um dos rituais mais solenes do catolicismo: a escolha do líder espiritual de mais de um bilhão de fiéis.
O conclave começa sempre que um pontífice morre ou renuncia. No caso atual, a sucessão segue-se à morte do papa Francisco, que faleceu aos 88 anos após um pontificado de 12 anos marcado por reformas e apelos à tolerância. Agora, 133 cardeais com menos de 80 anos, todos eleitores, se reúnem na Capela Sistina sob absoluto sigilo para definir quem será o novo líder da Igreja.
Os cardeais realizam as votações até quatro vezes por dia, e, para que um candidato seja escolhido, ele precisa alcançar dois terços dos votos. A fumaça preta surge da queima das cédulas misturadas a produtos químicos, um ritual que sinaliza à praça e ao mundo que a escolha ainda não foi feita. Quando os cardeais elegerem o novo papa, a fumaça branca subirá da chaminé, acompanhada pelos sinos da Basílica de São Pedro, anunciando o “Habemus Papam!”
O que é o conclave e como funciona a escolha do papa
O conclave é o processo de eleição papal, um dos rituais mais antigos e simbólicos da Igreja Católica. A palavra “conclave”, derivada do latim “cum clave”, significa “com chave” e indica o isolamento dos cardeais durante o processo eleitoral. Reunidos na Capela Sistina, eles juram manter sigilo sobre tudo o que for dito ou feito ali dentro até que um novo papa seja escolhido.
O processo inclui até quatro votações diárias, seguidas de pausas para oração, debate e reflexão. Para ser eleito, o candidato precisa alcançar dois terços dos votos dos cardeais presentes. Os eleitores podem votar em qualquer membro do Colégio Cardenalício, embora escolher alguém fora do grupo presente seja raro. Se após alguns dias não houver consenso, os cardeais podem alterar o processo, como aconteceu em 1271, quando um conclave durou quase três anos.
Hoje, além de manter o isolamento, controlam o acesso à Capela com detectores de metais e varreduras eletrônicas para evitar vazamentos de informações.
Cardeais favoritos refletem divisões internas da Igreja
O conclave acontece em um momento de divisão na Igreja Católica, com disputas entre alas conservadoras e progressistas. Os cardeais eleitores, embora majoritariamente nomeados por Francisco, têm trajetórias e visões distintas — o que torna o resultado deste conclave particularmente imprevisível.
Entre os mais citados está o cardeal italiano Pietro Parolin, atual Secretário de Estado do Vaticano e nome associado à continuidade diplomática e institucional do pontificado de Francisco. Já o filipino Luis Antonio Tagle é visto como representante da linha mais aberta e global do papa falecido — seu nome ganha força entre os cardeais da Ásia e África. Na ala mais conservadora, desponta o cardeal guineense Robert Sarah, crítico de reformas recentes e defensor da liturgia tradicional. Outros nomes mencionados incluem o cardeal húngaro Péter Erdő e os norte-americanos Joseph Tobin e Robert Prevost, este último com bom trânsito na América Latina.
O cenário é de incerteza. Embora Parolin e Tagle liderem as apostas, o resultado final pode surpreender, como já ocorreu em 2013 com a eleição de Jorge Mario Bergoglio. Até que a fumaça branca apareça, o mundo continua especulando quem será o próximo homem a vestir o branco papal.
Após a escolha: os rituais que antecedem o “Habemus Papam”
Quando elegem um cardeal papa, ele vai à “Sala das Lágrimas” e se veste pela primeira vez com a batina branca. Ali, ele tem um momento de recolhimento antes de sua apresentação pública. O nome do local faz referência à emoção intensa que muitos papas demonstram ao assumirem a responsabilidade do cargo.
Depois, o cardeal protodiácono anuncia à multidão na Praça de São Pedro: “Habemus Papam!” Em seguida, o novo papa faz sua primeira bênção “Urbi et Orbi” e revela o nome que escolheu. Esse anúncio é um dos momentos mais solenes da Igreja Católica e simboliza o início de um novo pontificado. A Missa de Início do Pontificado marcará a cerimônia que se seguirá, com a presença de chefes de Estado, religiosos e fiéis de todo o mundo, nos dias seguintes.
Enquanto isso, o Vaticano permanece em suspense. A fumaça preta de hoje indica que o processo está em andamento, mas o mundo católico aguarda ansiosamente a fumaça branca que trará um novo líder para o trono de Pedro.