Corpo de Francisco Tenório Júnior, o Tenorinho, é identificado 50 anos após seu desaparecimento na ditadura argentina
Neste domingo (13), a Embaixada do Brasil na Argentina confirmou que o corpo encontrado em 20 de março de 1976, em Don Torcuato, Buenos Aires, é do pianista Francisco Tenório Júnior, conhecido como Tenorinho. A Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) identificou o corpo ao comparar as impressões digitais com os registros arquivados no Brasil. A autópsia original indicava morte por disparos de arma de fogo, e o músico foi enterrado como indigente no cemitério de Benavídez. A confirmação encerra quase 50 anos de mistério sobre o paradeiro do artista, que desapareceu após sair de seu hotel para comprar remédios. Para a família, o resultado traz alívio e tristeza: “podemos finalmente saber o que aconteceu, mas é doloroso confirmar que ele foi vítima da violência política”, disseram os cinco filhos em nota. O Itamaraty agradeceu à equipe forense argentina e reforçou o compromisso do Brasil com memória, verdade e justiça.
Uma vida dedicada à música
Francisco Tenório Cerqueira Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 1940 e iniciou sua formação musical aos 15 anos, estudando acordeão e violão. Rapidamente se apaixonou pelo piano, instrumento que o tornaria uma referência no samba-jazz e na bossa nova. Gravou o álbum Embalo em 1964 e acompanhou nomes como Milton Nascimento, Gal Costa e Edu Lobo em estúdios e turnês. Era conhecido por seu virtuosismo e improvisação sofisticada, capaz de unir melodias brasileiras à linguagem do jazz norte-americano. Colegas lembram que Tenorinho vivia para a música, mantendo-se distante de militância política, o que torna seu assassinato ainda mais impactante. Ele estava em turnê na Argentina com Vinicius de Moraes, Toquinho, Mutinho e Azeitona quando desapareceu. Amigos como Vinicius percorreram hospitais e delegacias em busca de notícias, sem sucesso. Seu desaparecimento virou símbolo da violência de Estado que marcou o Cone Sul nos anos 1970.
A confirmação da morte reacendeu o debate sobre os crimes cometidos pelas ditaduras sul-americanas. A família pede uma nova investigação para identificar os responsáveis. Músicos como Toquinho e Joyce Moreno se pronunciaram, destacando que a perda não foi apenas de um homem, mas de uma linguagem musical única que ele vinha desenvolvendo. Para especialistas, Tenorinho seria hoje um dos maiores expoentes do piano brasileiro, com contribuição comparável à de Tom Jobim e Hermeto Pascoal. A notícia emociona fãs e reforça o papel da ciência forense na recuperação da história. Para muitos, o caso Tenorinho simboliza a necessidade de lembrar para que a história não se repita.