Em 2024, o Brasil registrou o maior número de afastamentos por transtornos mentais, com aumento de 400% desde o início da pandemia
Aumento de afastamentos por transtornos mentais
O Brasil registrou, em 2024, um recorde alarmante de afastamentos do trabalho por problemas relacionados à saúde mental. Com um aumento de 400% desde o início da pandemia, o número de licenças médicas subiu para 472.328, superando os índices mais altos já registrados, desde 2014. Esses dados, fornecidos pelo Ministério da Previdência Social, mostram uma realidade assustadora que revela como a crise sanitária afetou profundamente a saúde emocional dos trabalhadores.
A pandemia trouxe consigo uma série de desafios emocionais e psicológicos. O distanciamento social, o medo da doença, a perda de entes queridos e a incerteza econômica aumentaram os casos de transtornos como ansiedade e depressão. Para muitos, as condições de trabalho também se tornaram mais difíceis, com o aumento da informalidade e o impacto financeiro causado pela recessão econômica. Esses fatores têm levado cada vez mais brasileiros a buscarem licenças médicas para tratar das sequelas emocionais deixadas pela crise sanitária.
Mulheres são as mais afetadas
O impacto dessa crise não foi igual para todos os grupos. As mulheres, por exemplo, foram as mais afetadas, representando 64% dos afastamentos por transtornos mentais em 2024. Com uma média de idade de 41 anos, muitas dessas mulheres enfrentam uma dupla jornada de trabalho e responsabilidades familiares, o que tem agravado seus quadros de estresse e ansiedade. A sobrecarga de tarefas domésticas e a pressão de conciliar a vida profissional com o cuidado da casa e dos filhos se tornaram fatores cruciais para o aumento das licenças.
A disparidade salarial entre homens e mulheres também tem contribuído para essa situação, além do fato de que as mulheres estão mais propensas a buscar ajuda médica. Isso, por um lado, facilita o diagnóstico, mas, por outro, revela as desigualdades estruturais que afetam a saúde mental das trabalhadoras no país. Em estados como o Rio Grande do Sul, onde crises climáticas também impactaram a saúde psicológica de muitas pessoas, o cenário é ainda mais preocupante.
O papel do governo
O governo federal tem buscado formas de conter esse aumento nos afastamentos. Em resposta à crescente crise de saúde mental, o Ministério do Trabalho anunciou recentemente a atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), que regula as condições de saúde no ambiente de trabalho. A partir de agora, as empresas terão de adotar medidas mais rigorosas de prevenção a problemas relacionados à saúde mental e estarão sujeitas a multas caso não cumpram com as novas exigências.
Além disso, especialistas em saúde mental destacam que a conscientização sobre o tema tem crescido, o que tem levado os trabalhadores a procurar ajuda médica com mais frequência. Isso não apenas facilita o diagnóstico precoce, mas também abre caminho para a implementação de estratégias mais eficazes de prevenção e tratamento.
O impacto econômico
O aumento nos afastamentos por transtornos mentais também traz consigo um impacto financeiro significativo. Os trabalhadores afastados, em média, ficam três meses fora do trabalho e recebem cerca de R$ 1.900 por mês do INSS. Com isso, o custo total para o sistema de saúde e para as empresas, que enfrentam a perda de produtividade, é de aproximadamente R$ 3 bilhões por ano. Esse número preocupa tanto especialistas em saúde quanto economistas, pois revela a pressão que as empresas enfrentam para lidar com esse quadro crescente.
Por outro lado, o reconhecimento dos transtornos mentais e a busca por soluções são passos importantes para o futuro. Embora a crise seja devastadora, ela também abre espaço para um debate mais amplo sobre a saúde mental no ambiente de trabalho e a necessidade de mudanças estruturais para garantir que os trabalhadores tenham o suporte adequado.