Acidentes nas estradas aumentam no período de férias e causam 16 mortes por dia, aponta a PRF com preocupação
Fim de ano e férias escolares aumentam o tráfego nas rodovias brasileiras, transformando cada viagem em um risco real para motoristas e passageiros, especialmente quando distração, excesso de velocidade ou imprudência entram em cena. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que os meses de dezembro e janeiro são tradicionalmente marcados por deslocamentos longos e maior movimento nas estradas. Esses períodos continuam entre os mais críticos para a segurança viária no país.
Entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, as rodovias brasileiras registraram 16 mortes por dia, totalizando 1.050 óbitos.
Em dezembro de 2024, foram 6.605 sinistros, dos quais 1.861 foram graves, resultando em 7.890 feridos e 632 mortes – um aumento de 14,7% em relação a dezembro de 2023. Janeiro de 2025 apresentou 5.526 acidentes, 1.505 graves, 6.913 feridos e 418 óbitos, mantendo a média diária de mortes em 13,5.
Números reforçam alerta nas estradas
Para efeito de comparação, dezembro de 2023 registrou 6.617 sinistros, 1.863 graves, 7.997 feridos e 551 mortes, com média de 17 por dia. Já janeiro de 2024 contabilizou 5.757 sinistros, 1.604 graves, 7.126 feridos e 516 óbitos, mantendo média diária de 16 mortes. Mesmo com a leve queda no número total de ocorrências em janeiro, a gravidade dos acidentes permaneceu elevada, reforçando a necessidade de atenção redobrada nas estradas.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (SBTO), Dr. Robinson Pires, as estatísticas refletem diretamente a realidade vivida nos hospitais durante o período de férias. “Os meses de dezembro e janeiro concentram o maior volume de atendimentos por acidentes de trânsito. Por trás desses dados, encontramos pacientes com fraturas múltiplas, traumas graves e sequelas que podem alterar a qualidade de vida para sempre. Cada sinistro grave não é apenas um número, é uma família impactada, é uma rotina interrompida”, ressalta.
Entre as lesões de trânsito de maior complexidade, as mais comuns são as fraturas expostas, fraturas de fêmur e de pelve – muitas vezes associadas a lesões do acetábulo que exigem cirurgias longas e delicadas. “Também chegam pacientes com traumas de coluna, luxações acompanhadas de fraturas, lesões ligamentares graves e ferimentos em membros que podem resultar em limitações permanentes. Em casos mais severos, múltiplas lesões se combinam, configurando quadros de politrauma que demandam intervenção rápida e equipes multidisciplinares”, fala.
Álcool e direção
A combinação álcool e direção é outro ponto grave. Em dezembro de 2023, a PRF lavrou 980 autos de infração nesse perfil. Em janeiro de 2024, o número chegou a 802; em dezembro do mesmo ano, 808 autuações e 629 em janeiro de 2025.
“O fato de termos centenas de autuações por álcool ao volante todos os anos, justamente no período mais sensível, mostra que ainda há um longo caminho para mudar comportamentos. A combinação álcool e direção continua sendo uma das maiores ameaças à vida nas estradas”, salienta.
Transporte de crianças
O transporte irregular de crianças é mais uma questão preocupante. Em dezembro de 2024, foram contabilizadas 2.648 multas por descumprimento do artigo 168 do Código de Trânsito Brasileiro, que obriga o uso de dispositivos de retenção infantil. Em janeiro, a PRF registrou 2.450 ocorrências. São Paulo liderou as autuações (239), seguido pelo Rio Grande do Sul (232), Paraná (175), Bahia (170) e Santa Catarina (103).
O uso correto da cadeirinha ou bebê conforto durante viagens em veículos ajuda a diminuir em 70% o risco de mortes de crianças em acidentes de trânsito, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Trabalhamos diariamente para salvar vidas, mas nada é tão poderoso quanto a prevenção. A cadeirinha é uma das formas mais eficazes de impedir que histórias terminem antes do tempo”, frisa o médico. “A medicina consegue tratar consequências, mas não devolve o que se perde em um acidente evitável. E o trânsito brasileiro ainda cobra um preço alto de quem ignora cuidados básicos”, conclui.



