Mudança da Coca-Cola para açúcar de cana nos EUA pode custar mais de US$ 1 bilhão e prejudicar produtores de milho locais
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta última quarta-feira (16) uma mudança na receita da Coca-Cola vendida no país, ao substituir o xarope de milho que adoça a bebida por açúcar de cana. O comunicado foi feito em sua rede Truth Social, e segundo ele, a empresa teria aceitado o pedido para “tornar o refrigerante mais saudável”. A Coca-Cola confirmou o contato com a presidência e reconheceu o entusiasmo com a ideia, mas não garantiu que a mudança já esteja decidida. Disse apenas que anunciará novidades em breve.
A Coca-Cola já vende versões com açúcar de cana em alguns mercados, como o México, e também em edições importadas disponíveis nos Estados Unidos. O anúncio vem em meio a pressões do movimento “Make America Healthy Again”, liderado pelo secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr., que pede mais transparência nos rótulos e menos uso de xarope de milho. No entanto, especialistas afirmam que a substituição tem mais apelo político e de marketing do que impacto real na saúde pública.
Mudança afetaria produtores e mercado de milho
Segundo a Corn Refiners Association, a mudança poderia prejudicar milhares de fazendeiros de milho e afetar empregos em todo o setor de alimentos e bebidas. John Bode, presidente da entidade, afirmou que a troca aumentaria as importações e os custos da indústria, sem trazer qualquer vantagem nutricional. A medida também mexeu com o mercado: ações de empresas como Archer‑Daniels‑Midland e Ingredion, grandes fornecedoras de xarope de milho, caíram após o anúncio.
Analistas estimam que a substituição do xarope de milho pelo açúcar de cana custaria à Coca‑Cola mais de US$ 1 bilhão, por conta da diferença de preço entre os ingredientes. Além disso, a produção atual de açúcar nos Estados Unidos não seria suficiente para atender à demanda: o país teria que importar volumes significativamente maiores, principalmente do Brasil. Atualmente, os EUA produzem cerca de 3,6 milhões de toneladas de açúcar de cana por ano, menos da metade do necessário. Cerca de 400 milhões de bushels de milho são usados anualmente para produzir xarope de milho, o que representa 2,5% da colheita americana.
Especialistas questionam benefícios à saúde
Outro entrave são as tarifas sobre o açúcar estrangeiro, que podem chegar a 50%, dificultando a competitividade de importações brasileiras, mesmo com a capacidade de fornecimento. Embora o setor americano de açúcar, que inclui cana e beterraba, possa expandir sua produção, as limitações de mercado e os custos adicionais tornariam o processo mais caro e complexo.
Do ponto de vista nutricional, médicos e pesquisadores ressaltam que tanto o açúcar de cana quanto o xarope de milho contribuem igualmente para problemas como obesidade e diabetes tipo 2. A substituição não tornaria o refrigerante mais saudável, segundo especialistas. Eles recomendam alternativas como água, chá sem açúcar e bebidas naturais. Críticos enxergam a mudança como uma tentativa de Trump agradar financiadores do setor açucareiro. Já para parte do público, o selo “com açúcar de cana” carrega um apelo de autenticidade, ainda que os impactos reais da mudança sejam mínimos.