Brasil registra 24 intoxicações por metanol; MS amplia rede de diagnóstico e investiga mortes e casos suspeitos
Dados do surto
O Ministério da Saúde confirmou, até esta quarta-feira (8), 24 casos de intoxicação por metanol associados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. Esses casos foram identificados nos estados de São Paulo (20), Paraná (3) e Rio Grande do Sul (1). No total, as autoridades já registraram 259 notificações, mantêm 235 em investigação e descartaram 145. Em São Paulo, o epicentro do surto, há 181 casos em investigação, muitos concentrados em municípios da Região Metropolitana.
Pernambuco lidera as suspeitas fora de São Paulo, com 24 notificações, seguida por estados como Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Piauí, Goiás, Acre, Paraíba e Rondônia. O ministério também confirmou 5 mortes diretamente atribuídas à intoxicação por metanol em São Paulo. Outros 11 óbitos estão sob apuração: 6 em São Paulo, 3 em Pernambuco, 1 em Mato Grosso do Sul e 1 na Paraíba. Esse quadro ultrapassa a média anual histórica do país. Tradicionalmente, o Brasil registra cerca de 20 casos de intoxicação por metanol por ano. A dimensão atual acendeu alertas em redes de saúde nacional e estadual.
Medidas adotadas
Diante da gravidade, o governo instalou uma Sala de Situação para monitorar o avanço dos casos e coordenar estratégias. O Laboratório de referência do CIATox da Unicamp expandiu sua capacidade para realizar até 190 análises por dia, auxiliando os estados com menor infraestrutura. A Fiocruz liberou seus laboratórios para apoio, parte do esforço para criar uma rede permanente de diagnóstico de intoxicações químicas. O governo anunciou também a aquisição de fomepizol, antídoto específico que bloqueia a metabolização tóxica do metanol. Espera-se a distribuição às unidades de toxicologia em todo o país ainda nesta semana. Cada paciente pode necessitar de duas a quatro ampolas.
Além disso, foi reforçada a orientação para que profissionais de saúde notifiquem imediatamente qualquer suspeita, sem aguardar confirmação laboratorial, agilizando a resposta epidemiológica. O ministério também publicou notas técnicas em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, definindo critérios clínicos para casos suspeitos e procedimentos para atendimento e vigilância. Há ainda participação da Polícia Federal nas investigações, já que há indícios de atuação de organizações criminosas ligadas à adulteração de bebidas alcoólicas.
Sintomas, tratamento e alerta à população
A intoxicação por metanol pode evoluir rapidamente. Nos primeiros 12 horas, o paciente pode apresentar náuseas, dores abdominais e tonturas; em 24 horas, surgem distúrbios visuais e dor de cabeça; após 48 horas, há risco de insuficiência renal e danos neurológicos permanentes. Como antídoto, o etanol farmacêutico e o fomepizol são tratados como alternativas terapêuticas. Eles competem com o metanol pela enzima responsável pela metabolização, reduzindo a produção de compostos tóxicos. Unidades de terapia intensiva devem receber casos graves.
A detecção precoce é fundamental para reduzir sequelas e mortalidade. As autoridades orientam a população a evitar o consumo de bebidas de procedência duvidosa ou não regulamentadas. Qualquer sintoma após ingestão de bebida alcoólica, como visão turva, vômito ou dor abdominal intensa, deve motivar busca imediata por atendimento médico. É crucial que farmácias, distribuidores e bares colaborem, fiscalizando a cadeia de produção e consumo. A adulteração com metanol pode ocorrer de forma clandestina e exige vigilância rigorosa. As equipes de vigilância em saúde municipal também receberam alertas para tratar com atenção rumores e denúncias e manter articulação com a segurança pública para coibir práticas irregulares.