Esperança Garcia, primeira advogada negra do Brasil, denunciou abusos em carta histórica, simbolizando resistência e luta por justiça
A história de Esperança Garcia, uma mulher negra e escravizada no século XVIII, destaca-se como um marco de luta por direitos e justiça no Brasil. Sua carta ao governador do Piauí em 1770 é considerada uma das primeiras manifestações escritas contra a opressão e os maus-tratos sofridos por pessoas escravizadas. Em 2022, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reconheceu simbolicamente Esperança como a primeira advogada do país.
O legado de Esperança Garcia
Esperança Garcia nasceu em uma fazenda administrada por jesuítas no Piauí. Após a expulsão dos religiosos em 1759, sua vida mudou drasticamente sob a administração de novos gestores. Nesse contexto, em 1770, Esperança escreveu uma carta ao governador denunciando os abusos e as péssimas condições a que era submetida. O documento revelou sua força e habilidade para argumentar, mesmo em condições adversas.
O teor da carta é notável: Esperança descreveu as violências sofridas e reivindicou direitos, utilizando uma linguagem direta e formal. Essa iniciativa demonstra o poder transformador da escrita como ferramenta de resistência, especialmente para uma mulher negra e escravizada. A OAB resgatou sua história e a nomeou como a primeira advogada do Brasil, consolidando seu papel como símbolo de luta por justiça.
Racismo estrutural
O pesquisador Luiz Mott transcreveu um trecho famoso da carta de Esperança Garcia. Um dos fragmentos mais conhecidos é o seguinte:
“Eu sou uma escrava de Vossa Senhoria da administração do Capitão Antônio Vieira do Couto, casada. Desde que o capitão lá foi administrar que me tirou da fazenda algodões, onde vivia com o meu marido, para ser cozinheira da sua casa, ainda nela passo muito mal.”
Esse trecho foi escrito por Esperança Garcia para denunciar os maus-tratos que ela estava sofrendo e as condições de trabalho nas fazendas onde foi forçada a trabalhar, após ser retirada de sua antiga fazenda. A carta é um importante documento histórico, pois ela usou a escrita para se rebelar contra a opressão, mais de um século antes da Abolição da Escravatura no Brasil.
A história de Esperança Garcia vai além de sua carta. Ela simboliza a resistência das mulheres negras contra a opressão, desde a escravidão até os desafios contemporâneos. Sua trajetória abre discussões sobre racismo estrutural e desigualdades sociais que persistem no Brasil.
A luta contra o racismo envolve enfrentar as consequências históricas da escravidão e as desigualdades que dela derivam. Movimentos negros destacam que as escolas devem ensinar o exemplo de Esperança para conscientizar futuras gerações. Sua história mostra que, mesmo em condições de opressão extrema, a resistência sempre foi presente.
Fonte: Agência Brasil